sabato 15 marzo 2014

DA CONVERSÃO DO MUNDO ANTIGO AO CRISTIANISMO À SUA MULTIFORME CONFIGURAÇÃO



Extrato das aulas III-IV

Segundo Orlandis, o César Galério foi o maior instigador da perseguição Deoclesiana. Reconhecendo seu erro, o Augusto Galério poblicou em Sárdica, em 311, “um edicto que costituia la rectificación de toda su antigua política religiosa. El edicto reconocia al cristianismo um derecho di existencia legal: ‘denuo sint christiani; ordenaba, “existan de neuvos lós cristianos y celebren SUS asembleas y cultos, com tal de que no hagan nada contra el orden público”[1]. Assim, o cristianismo perdia o status de ‘superstição ilícita’.

A partir do Edito de Milano

Com o Edito de Milano[2], de dezembro de 313, o imperador Constantino a Igreja concedia à Igreja Católica a liberdade religiosa que favorecia o anúncio do Evangelho[3].

Tudo o que estava atrelado ao Império teve um crescimento vertiginoso, ao ponto que, em 324 passou a ser o único soberano da totalidade do Império, após ter vencido Licínio. E isso se deu também com a religião. De fato naquele ano promulgou dois editos para o Oriente, destinados a instaurar a paz religiosa naquela região e garantir aos pagãos o exercício de seu culto. Eram editos de conteúdo semelhante à regulamentação de Milano – mas com significativas variações que evocavam o percurso realizado nos anos passados. Fazendo uma profissão de fé cristã, Constantino exortava seus súditos “a servirer com toda reverencia à lei divina”. Assim, o paganismo passava a ser a “falsa religião das trevas”, aparecendo tão somente como tolerado. O conúbio do Imperador com o cristianismo proporcionou a edificação de templos e basílicas em Roma e em Constantinopla, a cargo do finança imperial.

Sustentando a tese da periculosidade do conúbio entre poder temporal e espiritual, é importante salientar que a subida de Costanzo II, o arianismo que ainda conseguia sobreviver fora assunto como religião oficial do Império do Oriente sendo, muito rapidamente, exportado para o Ocidente, tendo grande sucesso entre as populações germânicas – Godos, Burgundos, Svevos, Vândalos, Visigodos e Lombardos, até que fora extinto totalmente no século VII. Recaredo, o rei dos Visigodos, se convertera em 589 e, em 653, o rei longobardo Ariberto, pondo, assim, fim oficial ao credo ariano.

No Império romano o problema a unidade administrativa era facilmente resolvido por meio de guerras e mudanças de preceptores, comandantes e governadores. Com a conversão dos imperadores surgia o problema da unidade religiosa pois nem sempre os imperadores – ou suas consortes – aderiam à ortodoxia. Haja visto que a unidade religiosa era fundamental pois também dava uma identidade ao Império, com a propagação da fé cristã dentro as diferentes camadas sociais do Império – basta, para tal fim, evocar a presença de Elena, mãe do Imperador Constantino, como componente da comunidade eclesial, emergia a necessidade da tolerância que não era a concessão de um favor ou o resultado da presunta vitoria mística de 313, mas uma negociação e o desejo de unificar o Império debaixo de uma mesma fé capaz de caminha a pari passu com o poder institucional estabelecido. Daqui,a preocupação em restaurar  - num gesto patronal – a paz na cristandade africana, já em fase de separação por causa do cisma donatista[4]. Com este fim, por exemplo, Constantino convocara o Concílio de Arles (314) e promovera o de Niceia (325), finalizado a placar as doutrinas heréticas de Ario[5].

Houveram, todavia, imperadores – e pessoas de grande influencia nas decisões imperiais – que aderiam ou simpatizaram com doutrinas heréticas que chegavam a desencadear o mecanismo originário de algumas Igrejas autocéfalas, como podem ter sido os imperadores filo-arianos do quarto século Constancio e Valente; e, até, da volta à religião pagã[6], como foi, nomeadamente, o caso do Imperador Juliano, apelidado de O Apóstata.. todavia, salvo esta exceções, no quarto século, os cristãos já compunham a maioria do Senado Romano, refletindo, com isso, não somente uma tendência, mas a ascensão do cristianismo até seu ponto máximo: seu reconhecimento como religião de Estado, o que ocorrera baixo Teodósio, com a famosa constituição Cunctos populos, assinada em Tessalônica (28/02/380).

Enfim, os frutos do edito de Milão foram positivos, mas com grandes feridas. O imperador tolerou a religião, mas o que estava em jogo não era a fé propriamente e sim a identidade do império, todavia, foi a partir desta negociação com o imperador que a Igreja se expandiu sendo que, passados alguns anos esta negociação criou problemas de unidade causando grandes divisões internas que findaram por gerar muitas das Igrejas autocéfalas ainda hoje existentes. Se o conúbio entre o Império e a fé cristã permitiu a maior expansão da mensagem evangélica, é outro tanto verdadeira que o perdurar dessa situação deu origem não somente a problemas de ordem organizativo-administrativo, mas, também de ordem teológica; e, é, justamente, daqui que nascem os problemas ainda hoje marcantes no caminho da unidade dos cristãos.



Bibliografia



Binns, J., Le Chiese Ortodosse, Cinisello Balsano, Ed. San Paolo, 20052, 5-13.

Orlandis, J., La Iglesia antigua y medieval, Madrid, ed. Palabra, 1998, 41-89.

Giampaglia, A., L’arte Bizantina, Milano, ed. San Paolo/Famiglia Cristiana, 2004, 16, 40.





[1] Orlandis, 107.

[2] Com uma tal nomenclatura não se deve entender um Edito concreto, dado e passado em Milano – que a quanto aprece, nunca existiu – mas, à regulamentação  da política religiosa do Império ocorrida em Milano, em fevereiro de 313, como resultado das reuniões entre os imperadores Constantino e Licínio. Acordaram a plena liberdade religiosa – ao invés da simples tolerância outorgada por Galério. Ponto marcante desse comum acordo foi a devolução dos lugares de culto, propriedades e bens dos quais houvesse sido despojada. Orlandis sustenta esta tese pois, “estas medidas convenidas em Milan han llegado hasta nosotros a trevés de lós edictos promulgados por Licinio para su ‘parte’ del Império, que se han conservado. Disposiciónes análogas fuerón dadas por Costantino em Occidente (Orlandis, 109).

[3] Embora muitos historiadores católicos julgam que a Batalha de Ponte Mílvio – de outubro de 313 –, assinale a ‘conversão’ costatiniana, sua entrada ‘oficial’ na Igreja verificou-se tão somente no ano 337, quando recebeu o batismo, já às vésperas de sua morte (Orlandis, 108). Outrossim, como sentencia Orlandis,

[4] O donatismo nasce a partir da divisão do episcopado e do clero por causa da eleição do bispo de Cartago; posteriormente, ocorreram agitações sociais e a afirmação de um separatismo antirromano das populações númidas. Donato, de sua parte, transformou o cisma em heresia ao formular uma falsa doutrina eclesiológica  que concebia a Igreja Católica como uma comunidade integrada tão somente por ‘justos’. Deste ponto nascera uma errônea teologia sacramental – quando exigiu que os pecadores, os lapsi, que havia sido infiéis durante a última perseguição de Deoclesiano, fossem re-batizados para que pudessem voltar à Igreja e, ainda, quando sustentou a invalidez do batismo conferido por um sacerdote ‘caido’ (Orlandis, 88-89).

[5] O arianismo privava de fundamento o mistério da Trindade fundada sobre a identidade de Pai, Filho e Espírito Santo. Ario sustentava que, visto que o Cristo tinha sido gerado, a sua natureza não podia ser idêntica àquela do Pai; não podendo ser eterno, como Este. À base de suas afirmações está uma interpretação estreitamente racionalista dos textos: era ilógico, para ele, que a divindade, única e absoluta, pudesse admitir outras duas figuras – o Filho e o Espírito Santo, e, logo, poder-se-ia reconhecer, somente a divindade de Deus (Giampaglia, 40).


[6] O pagão era, originalmente, o habitante das zonas rurais, o camponês. O adjetivo nasce no tempo em que as cidades já possuíam entre suas populações maioria cristã, enquanto, nas zonas rurais, os habitantes do pagus – os pagãos - permaneciam fora da Igreja Católica, aferrados a suas ancestrais tradições e cultos.

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