lunedì 2 giugno 2014

Grandes teólogos protestantes: Paul Johannes Oskar Tillich




INTRODUÇÃO
Visto por muitos estudiosos como um dos mais ilustres teólogos protestantes do século passado, se não o maior deles, Paul Johannes Oskar Tillich, assim é o seu nome completo, é o grande responsável pela criação de um método de argumentação teológica denominado de “Teologia da Correlação”. O método da correlação de Tillich, pode-se dizer, não é um método que apenas apresenta perguntas filosóficas e respostas teológicas, mas é um método que oferece uma conclusão a partir de elementos ditos opostos ou mesmo contraditórios. Dessa forma, o trabalho proposto versará, de forma mais insistente, sobre essa linha de pensamento, sem deixar, no entanto, de expor muitos outros elementos importantes da vida do teólogo.
O objetivo desse trabalho, como já fora dito, não é apenas de expor suas ideias e pensamentos teológicos, mas também procurará contemplar outros aspectos que se referem ao teólogo da correlação. Assim sendo, em um primeiro momento, far-se-á, de forma resumida, um relato sobre a sua vida, sua origem, seus pais e outros aspectos que se relacionem com sua biografia. No segundo momento, a sua produção literária é o que aparece com maior destaque. Aqui, procurar-se-á fazer uma exposição, não muito detalhada, de suas principais obras, tanto das que foram escritas quando ainda vivia na Alemanha, como também e, principalmente, das que foram produzidas nos Estados Unidos, onde fez residência. Na terceira parte, será abordado, como já se falou acima, o seu pensamento, isto é, as linhas gerais do seu método teológico da correlação.
Encaminhando-se para o fim, em forma de conclusão, apresentar-se-á as principais impressões deixadas pelo teólogo, no referente à sua teologia e ao seu método sistemático de pensamento.

VIDA
Paul Johannes Tillich (1886-1965) nasceu em Starzeddel, um pequeno povoado da Alemanha, filho de pais protestantes. Seu pai era pastor da Igreja Luterana. Realizou seus primeiros estudos em Schoenfliess-Neumark. Com doze anos, ingressou no Gymnasiurn da vizinha cidade de Königsberg. Em 1900, transferiu-se para Berlim junto com sua família. Em Berlim, concluiu seus estudos fundamental e médio e iniciou os universitários, que tiveram prosseguimento em Tubingen para a láurea em filosofia e em Halle para a láurea em teologia. Em filosofia, estudou os grandes filósofos alemães, sobretudo, Schelling. Em teologia esteve na escola de Martin Kähler (1835-1912), um dos maiores mestres da época.
Concluídos os seus estudos universitário em 1912, dedicou-se à cura de almas até a eclosão da Primeira Guerra. Então, alistou-se como capelão militar. Após a Guerra, juntamente com alguns amigos, fundou um movimento político chamado “socialismo religioso”, que era baseado no princípio de que sem um fundamento religioso nenhuma sociedade pode salvar-se da destruição. Mas as massas operárias não estavam em condições de compreender um programa tão nobre como o do partido de Tillich e o movimento fracassou.
Os anos do pós-guerra são muito importantes na vida de Tillich porque foi aí que aconteceu a maturação de suas ideias e todo o embasamento de sua construção teológica. As noções do princípio da correlação, do princípio protestante, da sola fides da fé como empenho supremo e do kairós, encontraram a sua primeira formulação durante aquele período.
Ao mesmo tempo, o jovem teólogo sentia-se atraído pela teologia dialética de Karl Barth. Com efeito, o Barth da teologia dialética procurava construir uma relação orgânica entre a criatura e Deus. E esse era também o ponto central da concepção tillichiana das relações entre teologia e cultura, entre fé e razão, entre homem e Deus. Porém, quando mais tarde Barth passou para a neo-ortodoxia, os dois se separaram, tornando-se adversários declarados.
Tillich, então, começa a sua carreira profissional e de 1919 a 1924, foi livre docente em Berlim; em 1924/25 foi professor em Marburg; de 1925 a 1929, em Dresden e Leipzig; de 1929 a 1933, em Frankfurt. E em 1933, precisamente, Tillich transfere-se para os EUA.
Nos Estados Unidos, Tillich encontrou o lugar perfeito para desenvolver o seu pensamento. Depois de um início difícil, o seu pensamento começou a encontrar admiradores e seguidores. Depois da Segunda Guerra, eles cresceram tanto a ponto de fazer de Tillich o teólogo mais admirado e influente dos Estados Unidos. Por isso, em 1955, a Universidade de Harvard ofereceu-lhe um lugar entre seus estudiosos. Tillich aceitou e, depois de mais de vinte anos de ensino no “Union Seminary”, assumiu a cátedra teológica mais ambicionada dos Estados Unidos. Nela, durante os últimos anos de sua vida, pode pregar a sua mensagem teológica à fina flor dos universitários norte-americanos e do mundo. Depois de ter deixado Harvard por limites de idade, ainda ensinou pela última vez em Chicago. Em 1962, recebeu o Prêmio da Paz. Morreu no ano de 1965 em Chicago, deixando sua mulher, Hannah, uma filha, Erduthe Farris, e um filho, Rene Stephen.

OBRAS
A produção literária de Tillich é considerável: mais de quatrocentos escritos. Do ponto de vista cronológico, divide-se em dois grupos: alemão e norte-americano. As obras mais importantes do período alemão são: Die religiöse Lage der Gegenwart (A atual situação religiosa ― 1925) e Das Dämonische. Ein Beitrag zur Sinndeutung der Geschichte (Demoníaco. Uma contribuição para a interpretação do sentido da história ― 1926). São dois escritos curtos, mas altamente significativos. O primeiro é uma análise penetrante da crise espiritual que golpeou a sociedade no primeiro pós-guerra. O segundo é um ensaio sobre a filosofia da história, em que trata principalmente do problema do mal. A produção do período norte-americano é muito fecunda. Abarca dois gêneros de escritos: alguns são dirigidos aos especialistas, outros ao grande público.
Ao grande público destinou, entre outras, as seguintes obras: The Protestant Era (1948); The Shaking of the Foundations (1948); Lave, Power and Justice (1954); The New Being (1955); Biblical Religion and the Search for Ultimate Reality (1955); Morality and Beyond (1963); Christianity and the Encounter of World Religions (1963); The Eternal Now (1966); My Search for Absolutes (1967).
Nesses escritos, Tillich procurou, com uma linguagem simples e imediata, tornar sua mensagem religiosa compreensível mesmo para o público profano. Dentre essas obras, The Shaking of the Foundations (A agitação das Bases) e The New Being (O Novo Ser)[1] foram as que tiveram maior sucesso e exerceram a maior influência.
A tese de The Shaking of the Foundations é que os símbolos, os conceitos e a linguagem com que a mensagem cristã é expressa hoje estão decididamente superados: o homem moderno não os compreende mais. Nem mesmo os símbolos mais importantes, como Deus, pecado, paraíso e inferno, dizem-lhes ainda alguma coisa e, ao invés de ajudá-lo a crer, tornaram-se, para ele, uma ulterior razão de incredulidade. Chegou, portanto, o momento de abandoná-los e substituí-los por símbolos novos, em conformidade com o novo modo de pensar.
A tese de The New Being é que, se Cristo é apresentado como Novo Ser, a mensagem cristã voltará a atrair também o homem moderno. “O Cristianismo é a mensagem da Nova Criação, o Novo Ser, a Nova Realidade, que se manifestou com a vinda de Jesus, que por essa razão e só por essa razão é chamado o Cristo. Com efeito, o Cristo, o Messias, o eleito e ungido, é aquele que traz o novo estado de coisas”.
Também para especialistas em assuntos teológicos, foram elaborados os dois livros publicados postumamente: Perspectives on 19th and 20th Century Protestant Theology (1967) e A History of Christian Thought (1968). Estes livros contêm as lições de história da teologia que Tillich ministrou durante vários anos no Union Theological Seminary e na Harvard University.

PENSAMENTO
Paul Tillich é um pensador sistemático. Procurou nos dizer, ordenadamente, e por completo, tudo aquilo que queria nos dizer. Por isso, não e difícil identificar os temas dominantes em seu pensamento. Estes podem ser reduzidos a dois: um metodológico; o outro, de conteúdo. O primeiro é constituído pelo princípio da correlação, o segundo pelos problemas do homem e as respostas de Deus. O segundo tema, obviamente, tem um vasto alcance e abarca quase toda a teologia tradicional, bem como grande parte da filosofia. No entanto, é possível reduzi-lo a três pontos principais, na medida em que três são os maiores problemas que angustiam o homem: o ser das coisas, a própria existência e a história. Deus forneceu sua resposta clarificadora e salvífica a tais problemas, apresentando-se como fundamento do ser, salvador do homem e guia da história. Mas a resposta divina só resolve os problemas do homem se este a faz sua, ou seja, somente se tem fé. Contudo, para que ele possa fazê-la sua, é preciso que ela lhe seja apresentada de maneira inteligível. Daí a instância de transmitizar a mensagem revelada para torná-la eloquente para o homem do século XX.

1 O Princípio de Correlação
O eixo em torno do qual gira toda a teologia de Paul Tillich é o princípio da correlação. Este afirma a necessidade de pensar qualquer realidade juntamente com outra realidade, na medida em que elas se encontram em relação de dependência recíproca. Essa relação de dependência recíproca que Tillich chama de correlação, exatamente porque implica uma subordinação recíproca, distingue-se de todas as relações que os outros filósofos colocaram na base de suas interpretações do real, tanto da contradição como da analogia, tanto da harmonia como do paralelismo, tanto da participação como da complexidade, e assim por diante. Segundo o princípio da correlação, porém, os elementos relacionados só podem existir juntos, razão pela qual é impossível que um aniquile a existência do outro.
Por exemplo: o eu não pode existir sem o mundo, nem o mundo sem o eu; a filosofia não pode existir sem a teologia, nem a teologia sem a filosofia; a fé não pode existir sem a dúvida, nem a dúvida sem a fé; a pergunta não pode existir sem a resposta, nem a resposta sem a pergunta; a participação não se efetua sem a individuação, nem o individual sem a participação, etc. É impossível um oposto solitário, tanto no ser como no pensamento. Isso significa que os opostos não são distintos até o fim, mas que há um ponto de encontro. E do ponto de encontro nasce a unidade das coisas, cujo ser é tecido de correlações. O princípio da correlação não foi inventado por Tillich. Já podia ser encontrado em Platão, Aristóteles e são Tomás. Neste século, ele encontrou seguidores tanto no campo protestante como no católico. No primeiro, basta recordar os teólogos dialéticos: Brunner e Barth. No segundo, recordo Przywara, Guardini e Teilhard de Chardin.
No sistema de Tillich, o princípio da correlação exerce o papel exercido pelas ideias no sistema de Platão, pelo Ato e a Potencia no sistema de Aristóteles, pelo Ser-Perfeição-Absoluto no sistema de são Tomás, pela Substância no sistema de Spinoza, pelos Juízos Sintéticos a priori no sistema de Kant.
Segundo Tillich, a realidade não é outra coisa senão um admirável e complicadíssimo entrelaçamento de correlações. Estas a atravessam em todas as direções e a penetram em todas as suas dimensões. Entretanto, há uma correlação que tem prioridade absoluta sobre todas as outras: é a correlação que intersecciona a realidade verticalmente, de baixo para cima (e vice-versa), do homem para Deus (e vice-versa). É com base nessa correlação que edifica todo o seu sistema teológico, o qual, como já vimos, se articula em cinco partes, justamente porque cinco são as ramificações fundamentais da correlação vertical: razão-Revelação, ser-Deus, vida-Espírito, homem-Cristo, história-Reino de Deus.

2 A correlação epistemológica
A correlação epistemológica é estudada em três momentos: primeiro como relação entre razão e Revelação, depois como relação entre razão e fé e, por fim, como relação entre filosofia e teologia. Segundo Tillich, a razão é uma força que permeia toda a realidade. Como força das coisas, chama-a “razão objetiva”, como força do homem chama-a “razão subjetiva”. A razão subjetiva é a estrutura racional da mente; a razão objetiva é a estrutura racional da realidade, que a mente está em condições de apreender e em virtude da qual ela pode dar forma à própria realidade.
Tillich distingue dois momentos no interior da razão subjetiva, um técnico e um “participativo”. O momento técnico é aquele em que a razão chega à verdade pelo caminho da análise e da experimentação. O momento “participativo” é aquele em que chega à verdade pelo caminho da intuição e da emoção. O processo cognoscitivo por controle reduz todo objeto à coisa, dele fazendo um elemento de evidência empírica; mas exatamente por isso não está em condições de colher toda a verdade na profundidade do Ser. Já o conhecimento “participativo” chega até o Ser, mas exatamente porque priva do caráter experimental não oferece garantias de veracidade e deixa sempre aberta a possibilidade da dúvida.
Para tirar a razão humana das areias movediças da dúvida que ameaçam engolir todo o seu mundo cognoscitivo, Deus vem ao encontro do homem com a luz da Revelação. Esta, segundo o nosso autor, representa o momento em que o sujeito humano é aferrado pelo poder do Ser e imerso no milagre de sua automanifestação. Então, as coisas, fatos e acontecimentos tornam-se símbolos da realidade divina: uma iluminação que alcança a realidade e o homem. Aquilo que se manifesta ao homem na Revelação não é estranho à razão, não pertence a outro mundo, um mundo sobrenatural, mas sim a um mundo que é o seu próprio mundo em sua profundidade mais substancial. Com efeito, a Revelação outra coisa não é que a Profundidade da Razão. A razão, portanto, é naturalmente aberta à Revelação, aliás, é correlata a ela, porque só a Revelação está em condições de dar uma resposta plenamente satisfatória às suas questões.
Mas o encontro entre razão e Revelação não é automático, ocorre apenas quando estão presentes certas condições espirituais, aquelas condições que constituem a fé. Para Tillich, a fé não é só um ato do intelecto ou da vontade através do qual aceita-se verdades comunicadas de cima, mas sim é um estado que alcança todo o homem: “A fé é o estado de quem se empenha extremamente”. Assim, a fé é uma disposição comum a todos os homens; mas não a fé cristã. Esta só pertence a quem escolheu Jesus Cristo como motivo do seu empenho supremo. A fé é essencialmente dom de Deus. Porém, contrariamente ao biblismo fideísta barthiano, que exclui da fé qualquer condicionamento humano e dela faz uma obra exclusiva de Deus, Tillich afirma que ela não é possível sem a participação do homem. A inserção humana é evidente, antes de mais nada, no fato de que o sujeito da fé é e só pode ser um homem. Com efeito, para que o ato de fé se cumpra, é preciso haver um sujeito capaz de preocupações supremas. Tal sujeito não é a pedra, nem a planta, nem o animal. Só o homem tem a capacidade de transcender o fluxo das experiências relativas e transitórias da vida cotidiana.
Para que o homem tenha fé são necessárias também predisposições psicológicas, porque a fé não é algo que Deus impinge a qualquer custo, mesmo a quem não a quer ou não está preparado. A predisposição psicológica fundamental é que o homem tenha experimentado a inutilidade do seu ser, a incapacidade de dar um significado à própria vida, a alienação de sua essência; é preciso que ele tenha consciência do estado de pecado em que se encontra. Somente se possuímos uma justa visão da situação humana da velha realidade do homem é que podemos compreender que em Cristo surgiu uma nova realidade.
A fé é a resposta de Deus à questão existencial. Enquanto essa questão não é colocada, Deus não responde. O que não significa que a resposta de Deus é causada pela pergunta humana. A pergunta é condição, não causa da resposta. A resposta é absolutamente gratuita, porém só é dada a quem a procurou e está em condições de apreciá-la. A resposta divina, com o já se viu, constitui a Revelação. Dois são, portanto, os elementos constitutivos da teologia: a mensagem revelada e a reflexão filosófica. Tillich os extrai do próprio termo teologia, que resulta da união dos termos gregos “theos” e “logos”. O primeiro indica aquilo de que se ocupa o teólogo em sua reflexão, vale dizer, Deus na medida em que se revelou. O segundo exprime o esforço realizado pelo teólogo com a razão, a fim de penetrar nos mistérios da Revelação divina. Os dois elementos são inseparáveis: não pode haver teologia sem mensagem revelada, mas tampouco sem reflexão teológica. Contudo, ao construir um sistema, pode-se dar mais relevo a um ou outro. Se prevalece o elemento querigmático, temos uma teologia de tipo barthiano. Já se predomina o elemento filosófico, temos uma teologia que Tillich ora chama “apologética”, ora “teologia especulativa”, ora “filosofia cristã da religião”, ora “teologia filosófica”. E Tillich propôs-se a construir não uma teologia querigmática, antes uma teologia filosófica.
Os problemas supremos que atormentam os filósofos (e todos os homens, na medida em que todos são mais ou menos explicitamente filósofos) são três: o ser, a existência e a história. Na teologia de Paul Tillich esses problemas encontram as seguintes respostas: Deus como Fundamento do ser, Cristo como Novo Ser, a Igreja como Reino de Deus.

3 A correlação Ser-Deus
A questão mais grave que vem afligindo os filósofos de cada época é a questão do ser. Mas o que se entende por “ser”? Tillich sabe que os filósofos não estão de acordo nesse ponto. Por isso, faz questão de explicar o seu conceito de ser. Nada tem a ver com o conceito estático de tipo “parmenídio” ou aristotélico. O seu é um ser em que está presente um movimento dialético, que opera desde o seu interior, como “unidade de potências criadoras e destrutivas”, provenientes do mais profundo do ser, como uma sua qualidade, um seu princípio negativo: O ser consta de si mesmo e do não-ser.
Com o conceito “fundamento do ser”, Tillich não quer significar um ser supremo, uma causa primeira que esteja fora do mundo, mas sim o princípio vital subjacente a toda realidade.
Dessa forma, Deus não é estranho, não está fora do ser, mas forma o seu mais íntimo e profundo fundamento. Tillich refuta categoricamente a concepção sobrenaturalista, que coloca Deus fora do mundo. Em consequência, critica todas as tentativas do passado no sentido de provar a existência de Deus, pois procederiam dessa concepção. No entanto, ao mesmo tempo, rejeita também a concepção naturalista, que confunde Deus com as coisas, Deus com a natureza, Deus com o ser. Deus não é a coisa, a natureza, o ser; antes está nas coisas, na natureza, no ser, como o seu último fundamento. Entre as coisas, a natureza e o ser, por um lado, e Deus, por outro, não há relação de identidade, mas sim de correlação.
A oposição ao naturalismo e ao sobrenaturalismo — além da negação dos caminhos tradicionais da existência de Deus — tem também uma outra importantíssima consequência para a teologia de Paul Tillich: a negação que pode ser atribuída a Deus própria e literalmente pelos conceitos que nós utilizamos para as criaturas. Assim, por exemplo, nega que se possa atribuir a Deus o conceito de pessoa. Se quisermos proteger Deus do antropomorfismo, é preciso chamá-lo própria e literalmente com nomes que só possam ser aplicados a Deus, como, por exemplo, fundamento do ser, poder do ser, poder da razão, infinito, etc. Os nomes que se aplicam às criaturas não são própria e literalmente aplicáveis a Deus, mas apenas simbolicamente. Como se vê, Tillich exclui o método da analogia, que, ao contrário, afirma que alguns nomes são aplicáveis própria e literalmente tanto a Deus como às criaturas.

4 A correlação Homem-Cristo
Fiel ao cânon do princípio da correlação, Tillich, depois de construir a “teologia” como resposta ao problema do ser, elabora a “cristologia” como resposta ao problema do homem.
Segundo Tillich, o homem é uma dualidade, mas não uma dualidade de alma e corpo, que não é a mais importante e fundamental para compreender a condição humana. A dualidade mais profunda de que fala Tillich é a dualidade entre essência e existência. Não entende essa dualidade à maneira de são Tomás (dois princípios consubstanciais), nem à maneira de Heidegger (a essência fruto da existência), mas de um modo novo: a existência é o decaimento da essência. Para Tillich, esse decaimento consiste no Pecado Original, a Queda de que fala a Sagrada Escritura.
Antes da Queda, o homem se encontrava no estado de “inocência sonhadora, aquele que segundo a tradição cristã é o estado de natureza pura”. O homem caiu desse estado não tanto por um ato de vontade ou por um capricho, mas muito mais pela finitude do seu ser. Aliás, parece que para Tillich, a Queda consiste essencialmente no desligamento das coisas do fundamento do Ser e na constituição de sua finitude; por essa razão, “a passagem da essência à existência” é uma passagem à qual nenhum ente finito, pode se furtar.
A consequência primeira da alienação ontológica ocorrida na Queda é a alienação “teológica”, ou seja, a ruptura do circuito vital que deveria unir o homem a Deus. O homem cede à tentação de elevar-se a centro de si mesmo e do seu mundo, transpondo o seu ser finito e precipitando-se na situação da hybris (soberba), da libido e da incredulidade. Nessa situação, desenvolvem-se no espírito do homem a angústia e o desespero. Só com suas próprias forças, o homem não pode sair desse estado e por isso não pode retornar ao estado inicial: não pode sair da existência e recuperar a sua natureza essencial. Essa possibilidade só lhe é oferecida por Cristo. Segundo Tillich, Jesus é aquele homem em que as forças desagregadoras da existência, a soberba, a angústia, a libido e o desespero, foram vencidas. E foi precisamente por essa vitória que ele se tornou o Cristo. Segundo o nosso teólogo, mais que de um Deus que se faz homem, deve-se falar de um homem que se torna Deus, ou melhor, de um homem no qual Deus se torna visível, se manifesta. Tal manifestação de Deus em Cristo tem um poder salvífico universal: Cristo salva, regenera, justifica e santifica todos os homens. Isso, que constitui o núcleo essencial do kerygma cristão, perdeu grande parte de sua credibilidade porque não era expresso de maneira inteligível pelo homem moderno. Este tem uma mentalidade fortemente anti-sobrenaturalista, que se recusa a crer em seres divinos que descem do Céu para a terra. Para tornar Cristo novamente atual e inteligível, Tillich propõe que não mais se fale dele como “Filho de Deus”, “Verbo Encarnado”, “Homem-Deus”, mas sim como Novo Ser.

5 A Correlação História-Reino de Deus
A última parte da Systematic Theology é dedicada àquela problemática que os teólogos chamam habitualmente de “eclesiologia”, a qual Tillich prefere chamar ora “Comunidade Espiritual”, ora “Reino de Deus”. O Reino de Deus se concretiza não na Igreja, que é uma realidade sociológica e, portanto, está sujeita a todas as leis que determinam a vida dos grupos sociais, com as suas ambiguidades, mas sim na Comunidade Espiritual. Tillich dá a seguinte definição dessa comunidade: é a comunidade do Novo Ser. Foi criada pelo Espírito divino tal como se manifesta no Novo Ser em Jesus, enquanto Cristo.
A Comunidade Espiritual e, portanto, ao Reino de Deus não pertencem somente os cristãos, mas os homens de qualquer época, lugar, nação, raça e língua, desde que “sejam aferrados pela Presença Espiritual e sejam claramente determinados por ela, ainda que fragmentariamente”.

CONCLUSÃO
O estudo do teólogo da teologia da correlação, Paul Tillich, proporcionou um aprendizado de valor incomensurável, pois serviu como um valioso auxílio para que tenhamos uma visão mais alargada a respeito da teologia protestante hodierna. No entanto, o brevíssimo estudo ora apresentado, que, diga-se de passagem, não teve a intenção de exaurir toda a teologia de Tillich, como ficou evidenciado nas páginas precedentes, uma vez que a sua obra revela-se imensamente maior.
Entrementes, após tê-lo estudado, foi possível conhecer um pouco sobre a sua vida e suas obras, além de tirar algumas conclusões sobre o seu pensamento. Com esse estudo foi possível concluir que, em seu sistema de abordagem correlativa, predomina um modo de pensamento no qual suas conclusões seguem um caminho dialético e correlativo, isto é, elas visam mostrar a interdependência lógica de conceitos filosóficos que geralmente são vistos como polos opostos e excludentes.
A teologia de Tillich, no entanto, tem sido alvo de muitas críticas, pois compromete radicalmente a transcendência de Deus, a divindade de Cristo, a gratuidade da graça, a sobrenaturalidade da fé e o princípio escatológico da história. Nesse sentido, chega-se até a afirmar que sua teologia é herética, não bíblica, desconforme aos ensinamentos dos concílios e incompatível com a teologia dos Padres e Doutores medievais.

BIBLIOGRAFIA
  
MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século XX. Tradução: José Fernandes. São Paulo: Editora Teológica, 2003.



[1] A tradução do título de algumas obras acima são apenas aproximações, pois para a tradução foi utilizado apenas um recurso da internet (Google Tradutor).


Atividade elaborada sob solicitação do Prof. Dr. Pe. Claudio Dionizio Rocha Santos, para a disciplina Teologia Protestante e Oriental, sendo esta parte de uma das avaliações do curso.
Aracaju – SE, maio/2014

Fabio Freitas dos Santos

Nessun commento:

Posta un commento