Introdução
Zuínglio pertence a um período da história em que as
insatisfações estão latentes no cotidiano das pessoas, seja pelas condições de
vida, pelo modo de conceber a vida; pelos abusos dos reis e de seus príncipes;
seja por parte da religião que por natureza e por etimologia da palavra “religa
o homem a Deus” é ponte para o encontro consigo e com a Divindade.
Nasce em uma tradicional família católica, tendo uma educação
de muita qualidade, com alguns dos melhores professores da época. Por sua
inteligência e capacidade é eleito sacerdote para cuidar do rebanho de Glarus,
com possibilidade de ir para Zurique, tendo a oportunidade de aprofundar seus
conhecimentos nas línguas grega e latim.
Unindo suas insatisfações com a política de seu tempo, com a
questão dos mercenários e com a conduta da religião, inicia uma serie de
questionamentos e insatisfações pessoas que levam-no a atacar a Igreja,
provocando uma série de rompimentos.
Veremos em nosso trabalho um pouco de sua vida e formação
intelectual; o período que se torna sacerdote; veremos seu patriotismo; seus
aprofundamentos nos estudos e os primeiros ataques à Igreja; o seu rompimento
com a Igreja; as disputas teológicas e por fim as batalhas entre os cantões
católicos e protestantes e a sua morte em uma dessas batalhas.
VIDA DE ULRICH ZWINGLI (1484 – 1531)
Na
pequena cidade de Wildhaus, em 1484 nascia um personagem que seria bastante
influente na Suíça de seus dias. Seus pais o batizou com o nome de Ulrich
Zwingli, que futuramente mudaria para Huldrych Zwingli. Seu nome em português,
no entanto, estaria mais próximo do nome de batismo: Ulrico Zuínglio.
Zuínglio foi educado na religião católica
pelos pais tementes a Deus. Logo cedo se destacou por sua inteligência e amor à
verdade. Aos oito anos ele teria dito que estava considerando se a mentira não
deveria merecer uma punição maior que o roubo, já que a verdade seria “a mãe de
todas as virtudes”. Por isto o pai achou uma injustiça confiná-lo à vida
pastoril, como fizera com seus irmãos Heini e Claus. Decidiu assim deixá-lo aos
cuidados de seu irmão Bartholomew em Wesen, que influenciou bastante o
humanismo de Zuínglio.
Zuínglio
permanece por dois anos com seu tio, quando este o enviara para Basiléia, para
a escola St. Theodore, aos cuidados de George Binzli. Alí Zuínglio aprenderia
latim, grego e música. Depois de três anos, Zuínglio é enviado a Berna, onde
Heinrich Wölflin, ou Lupulus, conhecido como o melhor estudioso clássico e
poeta latino da Suíça, tinha uma escola, na qual ensinava seus alunos sobre as
obras de autores gregos e romanos clássicos.
De
1500 a 1502, ele estudaria na Universidade de Viena, que se tornara um centro
de estudo dos clássicos através dos trabalhos de distintos humanistas, como Corvinus,
Celtes, e Cuspinian. Estudou filosofia escolástica, astronomia e física, bem
como os clássicos antigos. Potencializou sua vocação para a música, tocando
vários instrumentos.
Em
1502 ele retornaria para Basileia, onde ensinaria latim na escola de São
Martim. E dando prosseguimento em seus estudos, adquirindo grau de mestre em
artes no ano 1506. Nesse período conhece Leo Judae, que se tornaria grande
amigo durante os anos da Reforma em Zurique. Ele seria seu parceiro no futuro,
na tarefa de traduzir a Bíblia dos idiomas originais para o dialeto alemão da
Suíça. Decisivo para Zuínglio, no entanto, foi conhecer Thomas Wyttenbach, professor
de teologia. Desde 1505. É ele quem teria aberto seus olhos para vários abusos
da Igreja, principalmente as indulgências.
Eleito sacerdote
A
igreja de Glarus estava sem um sacerdote. Henry Goeldli, de Zurique, teria sido
indicado para a vaga, já que contava com o favor papal. Os cidadãos de Glarus,
no entanto, perceberam as intenções puramente financeiras de Goeldli,
mandando-o de volta a Zurique. Os cidadãos de Glarus elegeram o jovem Zuínglio
para a vaga. Ele fora então ordenado em
Constança no mesmo ano, pregando seu primeiro sermão em Rapperschwyl, às
margens do lago de Zurique, e logo depois celebrou sua primeira missa em
Wildhaus, iniciando suas atividades sacerdotais em Glarus, permanecendo ai por
10 anos.
Em
Glarus, entra em contato, pela primeira vez, com as obras de Erasmo de Roterdã,
através de seu amigo Loreti de Glarus. Zuínglio nutriria profundo respeito pelo
humanista, a quem visitou em 1515 em Basileia. A influência do estudioso em Zuínglio
se fazia notar em sua alta estima pelos clássicos pagãos, sua oposição aos
abusos eclesiásticos, a devoção ao estudo das Escrituras, e pode ter
influenciado sua posição moderada sobre o pecado e culpa hereditária e sua
primeira sugestão da interpretação figurada das palavras da Instituição da Ceia
do Senhor. Ele acreditava firmemente na predestinação e conheceria aquele que
seria seu biógrafo, Oswald Myconius.
Durante
estes 10 anos em Glarus, Zuínglio se dedicou a aperfeiçoar seus conhecimentos
nos idiomas bíblicos, especialmente o grego, para que pudesse ler a Bíblia em
seus idiomas originais, estudando sozinho o grego. Certamente sua conversão não
foi repentina, mas um processo intelectual gradual, que se completaria somente
em Zurique. Em Glarus ele era um patriota e humanista, não um teólogo ou um
professor religioso. Somente ao adotar a Bíblia como guia única para a vida é
que ele rompeu com as tradições de Roma, as quais nunca o influenciaram muito.
Zuínglio patriota
Era um costume suíço
enviar padres aos campos de batalha como capelães, e por isto Zuínglio
presenciou várias batalhas durante este tempo. É daí que Zuínglio inicia suas
preocupações patrióticas, mas depois da batalha de
Marignano (1515), onde um grande número de soldados suíços morreu por uma causa
indigna que não lhes pertencia, quando outros simplesmente se venderam para
Francisco I por um preço mais alto. Zuínglio começou a atacar a prática do
serviço mercenário. Estes ataques não foram bem recebidos por alguns de seus
paroquianos na cidade de Glarus, e ele se sentiu compelido a deixar aquela
paróquia. E assim, Zuínglio foi obrigado a deixar
Glarus em 1516, por conta de intrigas com o partido político francês, que
chegou ao poder depois da batalha de Marignano.
Zuínglio
aceita então um chamado a Einsiedeln, uma vila com um convento beneditino no
Cantão católico de Schwyz. No entanto, manteria seu cargo de sacerdote em
Glarus até seu chamado a Zurique, mantendo ali um vicário.
Aprofundamento nos estudos e primeiros
ataques a Igreja
É
em Einsiedeln que Zuínglio faz grande progresso no estudo das Escrituras e dos
Padres da igreja. Várias anotações suas foram feitas nas laterais das obras
destes Padres, sendo que os seus preferidos eram Orígenes, Ambrósio, Jerônimo e
Crisóstomo. Embora citasse muito Agostinho, ele não chegou a gostar dele tanto
quanto Lutero. Ele faz uma cópia manual de todas as epístolas de Paulo e a
carta aos Hebreus, a partir da primeira edição de Erasmo, de março 1516.
Ao
mesmo tempo ele iniciaria em Einsiedeln os ataques a alguns abusos por parte da
Igreja, especialmente a venda de indulgências. Ele diria que teria iniciado a
pregar o Evangelho antes que o nome de Lutero fosse conhecido na Suíça, mas com
a diferença de depender demais dos Padres da Igreja. Por causa da força destes testemunhos é que alguns historiadores
costumam apontar o ano de 1516 como sendo o início da Reforma suíça.
Rompimento
com a Igreja
Zuínglio é acusado de concubinato e de seduzir
a filha de um cidadão influente em Einsiedeln, ás vésperas de sua eleição para
o cargo em Zurique, ele escreve uma carta, defendendo-se das acusações
exageradas, mas admitindo incastidade. Por um lado ele protesta por não ter
desonrado nenhuma virgem, mulher casada ou freira, mas por outro lado ele
admite um relacionamento com a filha de um barbeiro que já havia sido
desonrada. Nesta carta ele já demonstrava seu arrependimento por tais condutas.
Em
1522 ele, juntamente com 10 padres, faria um pedido ao bispo de Constança e à
Dieta suíça na Alemanha, para permitir a livre proclamação do evangelho e o
casamento de sacerdotes. Ele reforçaria o pedido citando os exemplos de
escândalos envolvendo o clero, incluindo seu próprio caso no passado. Este
documento demonstra um grande avanço no sentimento moral em comparação com as
desculpas dadas na carta já mencionada acima. Ele citaria as Escrituras em
vista do direito ao casamento, implorando aos confederados que permitissem
aquilo que o próprio Deus sancionou. As petições, no entanto, não foram
concedidas.
Vários
padres desobedeceram abertamente. Um se casou com uma freira do convento de
Oetenbach (1523). Zuínglio se casaria em 1522, mas por precaução ele não tornou
o casamento público até 5 de abril de 1524.
Disputas teológicas
Zuínglio
propunha algumas disputas e a primeira delas ocorreu em 29 de janeiro de 1523,
perante 600 pessoas, incluindo todo o clero e membros do conselho maior e menor
de Zurique. O bispo de Constança enviou seu vicário geral, Dr. Faber, até aqui
amigo de Zuínglio e um homem de grande respeito, hábil estudioso e hábil
debatedor, com outros três conselheiros e juízes. Faber se recusou a entrar em
discussões teológicas detalhadas, que ele achava ser apropriadas para Concílios
ou Universidades. Zuínglio responderia suas objeções, convencendo a audiência.
Por isto, no mesmo dia, os magistrados decidiriam em favor de Zuínglio,
permitindo que ele proclamasse a verdade, proibindo também que qualquer
sacerdote pregasse algo que ele não conseguisse demonstrar pelas Escrituras.
As
consequências desta primeira disputa logo vieram. Ministros começaram a se
casar, o batismo era feito no idioma vernacular e sem exorcismo, as imagens
foram retiradas, rejeitadas. Com tais
esclarecimentos, a opinião pública foi preparada para as reformas que se
seguiriam. A destruição seria radical, mas ordenada, contanto com a ajuda dos
ministros e magistrados civis. A reforma começaria em Pentecostes e se
completaria em 20 de junho de 1524. Pinturas foram queimadas, ossos dos santos
foram enterrados, paredes foram repintadas, órgãos foram retirados das igrejas.
Zurique agora era uma cidade Protestante.
As disputas marcam um avanço além das costumeiras disputas
acadêmicas no idioma latim. Elas foram mantidas diante de leigos assim como
clérigos e no idioma vernacular. Elas trouxeram questões religiosas perante o
tribunal do povo de acordo com o gênio das instituições republicanas. Elas
tiveram, então, efeito mais prático do que a disputa em Leipzig. A Reforma
alemã foi decidida pela vontade dos príncipes, a Reforma suíça pela vontade do
povo: mas em ambos os casos havia uma simpatia entre os governantes e a maioria
da população.
Batalha
entre cantões católicos e protestantes e a morte de Zuínglio
Em meados de 1530, quando vários fatores políticos dão origem
a uma batalha entre os Cantões protestantes e católicos. Entre eles, está a
questão dos soldados mercenários e da proibição de pregar o Evangelho em
Cantões católicos. Zuínglio não teria usado nenhuma arma na batalha, mas estava
ali consolando os soldados e os motivando. Quando ajoelhava para consolar um
soldado que estava morrendo, levou uma pedrada na cabeça, que o levou ao chão.
Levantando-se, recebeu vários outros golpes. Levantando mais uma vez a cabeça viu
o sangue sair de suas feridas. Ainda vivia quando o capitão Vokinger de
Unterwalden, um dos soldados mercenários que tantas vezes Zuínglio havia
condenado, o reconheceu e com um golpe de espada o mataria, exclamando “Morra,
herege obstinado”.
Obras de Zuínglio
1. Obras Reformatórias
e Polêmicas: (a) contra o papado e os papistas (Sobre Jejuns; Sobre
Imagens; Sobre a Missa, etc.); (b) sobre a controvérsia com os anabatistas; (c)
sobre a Ceia do Senhor, contra a doutrina de Lutero da presença real e
corpórea.
2. Reformatórias e
Doutrinais: A Exposição de suas 67 Conclusões (1524); Um Comentário sobre a
Falsa e a Verdadeira Religião, endereçada ao rei Francis I. da França (1525);
Um tratado sobre a Divina Providência (1530); Uma Confissão de Fé endereçada ao
Imperador Carlos V. e a Dieta de Augsburgo (1530); e sua última confissão,
escrita pouco antes de sua morte (1531) e publicada por Bullinger.
3. Práticas e
Litúrgicas: O Pastor; Formas de Batismo e Celebração da Ceia do Senhor;
Sermões, etc.
4. Exegéticas:
Extratos de palestras sobre Gênesis, Êxodo, Salmos, Isaías, Jeremias, os quatro
Evangelhos e a maioria das Epístolas, editado por Leo Judae, Megander e outros.
5. Patrióticas e
Políticas: Contra pensões e serviços militares estrangeiros; discursos para
os Confederados e o Conselho de Zurique; Sobre a Educação Cristã; Sobre a Paz e
a Guerra, etc.
6. Poéticas: O
Labirinto e A Fábula (suas primeiras produções); três poemas alemães escritos
durante a peste; um escrito em 1529 e um Salmo versificado.
7. Epístolas. Elas
mostram a extensão de sua influência e inclui cartas a Zwingli de Erasmo,
Pucci, Papa Adriano VI., Faber, Vadianus, Glareanus, Myconius, Oecolampadius,
Haller, Megander, Beatus Rhenanus, Urbanus Rhegius, Bucer, Hedio, Capito,
Blaurer, Farel, Comander, Bullinger, Fagius, Pirkheimer, Zasius, Frobenius,
Ulrich von Hutten, Filipe de Hesse, Duque Ulrich de Württemberg, e outras
pessoas distintas.
Conclusão
Nossa
pesquisa bibliográfica teve o intuito de clarificar e desmestificar naquilo que
nos foi confiado a saber a vida, obras e teses do reformador Zuínglio que na
Suíça de seu tempo. Seus comentadores buscam apresentar um personagem que
deseja e luta para que seja revistos os valores pregados pela Igreja Católica.
É
nos apresentado um homem inteligente, um patriota que defende seu país e seu
povo, um homem de convicção que quer trazer uma nova visão, uma nova leitura
bíblica.
Nas
disputas teológicas foi vitorioso principalmente por ter apelado para as
questões em que o povo estava insatisfeito e vendo com maus olhos, como as
indulgencias e o celibato dos padres. Foi mais vitorioso ainda porque o povo
não possuía a bíblia não tinham contato com ela, e por ter lido e se
aprofundado dos textos bíblicos na língua original conduziu o povo com as
palavras da bíblia interpretadas por ele.
Foi
uma reforma conduzida pelo povo? Sim, mais com um povo conduzido por uma
interpretação pessoal não levando em consideração a tradição oral, o magistério
que ao longo de séculos vem conservando e interpretando num conjunto
harmonioso.
REFERÊNCIA:
1.
SCHAFF, Phillip, History of Christian Church,
Volume 8: Modern Christianity. The Swiss Reformation. O texto pode ser acessado
no linkhttp://www.ccel.org/ccel/schaff/hcc8.iv.ii.ii.html
2.
Gonzalez,
Justo L. Uma História do Pensamento
Cristão. 3: Da Reforma Protestante ao século 20. Cultura
Cristã. São Paulo. SP. 2004.
3.
ROPS,
Daniel. A Igreja da Renascença e da
Reforma (I). Quadrante. São Paulo. SP. 1996.
Atividade elaborada sob solicitação do Prof.
Dr. Pe. Claudio Dionizio Rocha Santos, para a disciplina Teologia Protestante e
Oriental, sendo esta parte de uma das avaliações do curso.
Aracaju – SE, maio/2014
Lucas Pires Pereira
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