Introdução
No
presente texto iremos tratar do teólogo protestante e reformador João Calvino.
No primeiro momento falaremos sobre sua vida, formação e como se deu sua vida
acadêmica. Em seguida, discorreremos brevemente sobre algumas de suas obras,
veremos, assim que estão divididas segundo a proposta da nossa pesquisa em: As
Institutas, Comentários bíblicos, Sermões, Opúsculos e tratados, Escritos
eclesiásticos e Cartas. Por fim, trataremos no último tópico sobre alguns
aspectos da teologia do teólogo em questão.
1 Vida, formação, estudos
João Calvino (1509-1564)
nasce em Noyon, de uma família abastada. Educado com certa severidade, é
encaminhado aos estudos, até porque fora destinado à vida clerical, no colégio
Montaigu[1],
em Paris, estuda artes (formação escolástica, lógica) e se torna Magister artium entre 1523 e 1527. O
pai, Geraldo Cauvin, cuidava dos negócios do bispo da cidade; em 1526, entra em
conflito com o Capítulo da cidade, é preso, excomungado, e depois de cinco
anos, morre sem se reconciliar com a Igreja[2].
Entre 1528 e 1533,
mudando completamente o rumo traçado anteriormente, Calvino estuda Direito em
Orleães e em Bourges. Nesses anos (1532), comenta o De clementia de Sêneca: uma obra que alcança pouco sucesso e na
qual não se percebem sinais de conversão à Reforma.
Depois da morte do pai,
retoma os estudos literários, frequentando os círculos humanistas (humanismo
bíblico) de Paris, acomodando-se no colégio Fortet, onde se encontra com
simpatizantes da reforma protestante (Melquior, Wolmar)[3].
Um momento decisivo para a evolução religiosa em 1533, quando, na abertura do
ano letivo, na Sorbonne, o reitor Nicolau Cop aborda no seu discurso o tema Bem-aventurados os pobres em espírito,
desenvolvendo ideias moderadamente luteranas sobre a servidão da lei, os
méritos de Cristo, o pouco valor das obras humanas. Calvino, amigo de Cop,
tinha ajudado na redação do discurso, que continha trechos inteiros de Lutero.
O discurso suscita
grande alvoroço. Cinquenta pessoas são presas, Cop e Calvino são obrigados a
fugir. Esses acontecimentos levam Calvino a um compromisso público com a
Reforma. Sua evolução religiosa culmina com a ‘conversão’, que pode ser
colocada entre 1532 e 1533, graças à qual, por um misterioso desígnio – escreve
no Prefácio ao Comentário aos Salmos, Deus o leva a abandonar as superstições
do papado e a abraçar, de modo repentino e inesperado, a verdadeira piedade.
A partir do final de
1533, começa a se chamar de protestante. Em 1534, sua evolução religiosa parece
completa. Deve, porém, deixar Paris, por não se sentir mais seguro, devido à
publicação de diversos libelos difamatórios. Refugia-se em Basiléia, passando
por Genebra, em 1536, é convencido por Farel – que justamente naquele ano havia
ganho a cidade para a Reforma – a ficar por ali, para ajudá-lo a organizar a
revolução religiosa e a levar à prática
suas ideias[4].
Indubitavelmente, Calvino
deu à Reforma uma abertura universal, Lutero, ao invés, partia de si mesmo e de
sua experiência subjetiva. Isso se deveu também ao diferente clima cultural em
que se encontram mergulhados os dois reformadores, a experiência de Calvino é a
do ambiente imigrantes franceses em Genebra, que, embora tendo uma
religiosidade marcada pelas características próprias da época, viviam num
ambiente religioso impregnado de humanismo bíblico.
2
Obras[5]
Um dos maiores legados
de João Calvino ao movimento reformado e ao mundo foi a sua extraordinária
produção literária. As obras do reformador de Genebra impressionam não somente
pelo seu volume, mas por sua qualidade e erudição, notadamente nos campos da
Teologia e da Interpretação Bíblica. A totalidade dos escritos de Calvino
preenche nada menos que 59 grossos volumes da coleção conhecida como Corpus Reformatorum. Os frutos dessa
reflexão encontram-se em seis categorias de escritos.
2.1 As Institutas: Calvino produziu ao todo oito edições de sua obra
magna em latim e cinco traduções para o francês. A 1ª edição (1536) tinha
apenas seis capítulos e a última (1559) totalizou oitenta. Essa edição equivale
em tamanho ao Antigo Testamento somado aos evangelhos sinóticos e segue o
padrão geral do Credo dos Apóstolos, tendo como objetivo ser um guia para o
estudo das Escrituras. É composta de quatro livros: I – O conhecimento de Deus,
o Criador; II – O Conhecimento de Deus, o Redentor; III – A maneira como
recebemos a graça de Cristo; IV – Os meios externos pelos quais Deus nos
convida para a sociedade de Cristo.
2.2 Comentários bíblicos: os comentários de Calvino são um importante
complemento das Institutas. Ele
escreveu comentários sobre todos os livros do Novo Testamento (exceto 2 e 3
João e Apocalipse), bem como sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e Isaías. Além
disso, foram preservadas as suas preleções sobre todos os profetas.
2.3 Sermões: em suas pregações, Calvino fazia a exposição sistemática
dos livros da Bíblia. Ele costumava pregar sobre o Novo Testamento aos domingos
e sobre o Antigo Testamento durante a semana. Seus sermões eram anotados
taquigraficamente por um grupo de leais refugiados franceses. A série Corpus Reformatorum contém 872 sermões
do reformador.
2.4 Opúsculos e tratados: Calvino escreveu muitas obras de natureza
apologética ao polemizar com católicos, anabatistas, libertinos e outros
grupos. Alguns exemplos são a Resposta ao Cardeal Sadoleto, reações ao Concílio
de Trento e a questão das relíquias. Outros escritos seus tratam de temas como
a Ceia do Senhor, a doutrina da trindade, a predestinação e o livre arbítrio.
2.5 Escritos eclesiásticos: o reformador também produziu muitos textos
voltados para diferentes aspectos e necessidades da vida da Igreja (escritos
catequéticos, confessionais, litúrgicos e outros). Dentre eles se destacam: Instrução e Confissão de Fé, Ordenanças
Eclesiásticas, Catecismo da Igreja de Genebra, Saltério de Genebra, Forma das
Orações e Cânticos Eclesiásticos e Confissão Galicana.
2.6
Cartas: finalmente, Calvino produziu
uma volumosa correspondência dirigida a outros reformadores, governantes de
diferentes países, igrejas perseguidas, crentes encarcerados, pastores e
colportores[6].
Um autor observa que o
reformador de Genebra escreveu mais num espaço de trinta anos do que uma pessoa
pode estudar e digerir adequadamente durante toda uma vida. Seus escritos nos
mostram o teólogo, o exegeta, o polemista, o pastor e, acima de tudo, o cristão
preocupado em glorificar a Deus e honrar a sua Palavra. Esse esforço contribuiu
para a difusão do movimento reformado por quase toda a Europa.
3 Características
da teologia de Calvino
A
obra fundamental de Calvino, escrita em 1536, Institutio Christianae Religionis, é uma eficiente síntese da sua
visão teológica.
Lutero
parte de si mesmo, do homem, da consciência de não se salvar, Calvino parte de
Deus, isto é, do seu plano de salvação (glória). Consequentemente, na concepção
calvinista é eliminado o magistério da Igreja, porque humano e, como tal,
falível: a Escritura fica sozinha e julga toda a Tradição. O Espírito Santo
inspira o autor sagrado (inspiração quase literal) e age para fazer com que o
leitor entenda a Escritura. Tal doutrina coloca-se contra os novos profetas e
contra os anabatistas: “só pouquíssimos vivem coerentemente com a própria fé, a
massa deve ser obrigada com a espada”.
A
concepção que Calvino tem de Deus é veterotestamentária: ele prega a absoluta
soberania, liberdade e glória de Deus, criador e providente. De fato, o objetivo da criação é o conhecimento e a
adoração de Deus, por parte do homem. O objetivo da redenção é a reconstrução
da imagem de Deus no homem, destruída pelo pecado, a partir do modelo de
Cristo, perfeita imagem do Pai. Com essa reconstrução, o homem pode conhecer e
adorar perfeitamente a Deus e servir à sua glória.
O
objetivo da criação e da redenção é autoglorificação de Deus. Tudo isso foi
previsto e programado por Deus ab aeterno.
Essa livre e absoluta soberania de Deus não é condicionada por nada, nem pelos
méritos do crente. Deus realiza o seu programa de salvação não só criando a
Igreja, mas salvando o homem através de uma eleição livre, mediante a concessão
da graça. Deus elege, antes da criação do mundo, o seu próprio povo, tirando-o
da ‘massa de pecados’, ou seja, escolhe os indivíduos fieis que quer salvar,
apresenta uma specialis vocatio
universalis, que não inclui a salvação, e apresenta uma specialis vocatio que inclui a salvação,
essa escolha ou praedestinatio não é
feita qualitate virtutum de cada
indivíduo, nem ex fide praevisa, mas coelesti decreto, com um livre decreto
de Deus, o qual estabelece quem é destinado à salvação e quem é destinado à
perdição, esse decreto é conhecido apenas por Deus, mas o individuo pode estar
seguro da salvação se estiver ‘em comunhão com Cristo’.
A
concepção eclesiológica de Calvino vê a Igreja como universus electorum numerus, anjos, homens mortos e vivos, os quais
foram eleitos em Cristo e, portanto, inseridos em Cristo, de modo a formarem
todos um só corpo com aquele que é o único chefe da Igreja. Tal Igreja é
invisível, mas se torna visível mediante as notae,
isto é, a pregação da palavra, os sacramentos, a obediência da fé (disciplina e
profissão imposta pela Igreja), que se realizam através dos ministérios.
Por
fim, no que se refere à eucaristia, Calvino não admite a transubstanciação
católica, nem como (Zwinglio) o valor
simbólico da comunhão. Para Calvino, a eucaristia é sempre uma ação do Espírito
Santo. Na Ceia estão presentes os sinais do pão e do vinho: o Espírito Santo
une Cristo aos sinais, quando o homem se une aos sinais, une-se a Cristo: não é
uma união física, mas uma comunicação da vida celeste do Cristo, da vida nova.
Conclusão
Conforme a opinião de alguns
autores, e que também nós concordamos, será João Calvino que dará consistência
à Reforma Protestante, mediante uma exposição sistemática da doutrina e sólidas
estruturas de organização eclesiástica. Sendo assim, percebemos que sua
doutrina é próxima da de Lutero no que diz respeito as suas instituições
fundamentais, porém a doutrina de Calvino é mais sistemática e abrange
características particulares. Logo, as Escrituras e a fé ocupam o mesmo lugar.
Porém, ele se concentra na soberania de Deus e insiste fortemente na decadência
do homem após o pecado original.
Bibliografia básica:
ZAGUENI,
Guido. A idade moderna: curso de
história da igreja III. Tradução de José Maria de Almeida. São Paulo: Paulus,
1999.
Referências complementares:
Obras de Calvino.
Disponível em: http://www.mackenzie.com.br/7007.html.
Acessado em 03.05.14 às 10h.
''Colportagem''. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Colportagem. Acessado em 10.05.14 às 10h20.
[1] Aí também estuda, nos mesmos anos, Inácio de
Loyola.
[2] Entre os representantes do Capítulo e os
familiares ocorrem litígios, inclusive no cemitério, para decidir se se podia
ou não sepultá-lo naquele lugar sagrado. Também seu irmão Carlos morreu
excomungado, por causo de um duelo.
[3] Converte-se ao
protestantismo, sobretudo, pelo desejo de um retorno à Igreja antiga. Ele mesmo
conta, várias vezes, os acontecimentos ligados à sua conversão (veja-se, por
exemplo, o Prefácio ao Comentário aos Salmos, 23 de setembro de 1557).
[4] Depois da morte de Zwinglio (batalha de
Kappel, de 1531), o modelo de Reforma por este realizado havia tornado o Estado
o verdadeiro dono da religião. Calvino procurou restituir à Igreja a sua
autonomia e submeter (no campo religioso e moral) os magistrados aos pastores.
[5] Disponível em:
http://www.mackenzie.com.br/7007.html. Acessado em 03.05.14 às 10h.
[6] A palavra ''colportagem'' vem do francês ''carregar no
pescoço'' ou levar artigos raros de prata e bronze na estufa amarrada envolto
do pescoço, eram conhecidos como vendedores ambulantes, que mantinham rolos da
Bíblia por de baixo desses artigos valiosos. Esse nome originou-se do costume
que mantinham os colportores dessa época que pendiam sobre suas bolsas sendo o
nome originalizado, e que por detrás disso levavam as réplicas originais de
cânons intactos ou trechos que poderiam ser lidos dos manuscritos preservados,
à Bíblia Sagrada. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Colportagem.
Acessado em 10.05.14 às 10h20.
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