domenica 23 aprile 2017

Dom Távora, o bispo dos pobres: resenha de uma obra já clássica

Jefferson dos Santos Fontes*

“Esta minha posição firme, de guarda e pregador do Evangelho, não me dá direito de permanecer omisso diante de injustiças sociais, assim como não admito o ódio entre os homens e as classes. Acho que, entre os maiores bens que devemos defender, estão a liberdade e a pessoa humana, e devemos fazê-lo não por palavras, mas sim buscando condições para que possam afirmar-se numa sociedade organizada e justa.” (Dom Távora)
Começo minha síntese citando uma fala de Dom José Vicente Távora, encontrada no capítulo “Dom Távora e a noite escura” do livro. Desta citação vemos o quanto ele foi um justo defensor da causa social no nosso estado. Tudo acontece no período do início do período da ditadura militar aqui em Sergipe.
Falando da função das instituições com relação ao indivíduo, vemos que as mesmas simplificam o comportamento social. Formas de pensamento e de comportamento positivamente sancionados do grupo, existem como já regulamentados e realizado antes que o indivíduo se tornar um membro. As instituições nas quais se introduz através da socialização se formam os esquemas de comportamento que são necessários. Neste caso, vemos a forma de sociedade que os militares queriam que fosse implantada no povo brasileiro. Os pensamentos que eles queriam que o povo seguisse, ou seja, não ter República com o militarismo assumindo o poder. Outra coisa notável foi o comportamento das pessoas que tiveram que aceitar tudo o que era imposto a elas sem poderem questionar os militares. Quando as instituições oferecem ao indivíduo esquemas já predefinidos de relações sociais e de papéis é isso: eles davam um modelo de governo pronto pra sociedade seguir e as pessoas que não seguissem eram perseguidas, torturadas e presas. As instituições representam a defesa jurídica do indivíduo. Quando Dom Távora movimenta a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que era contra o comunismo e o governo. Esta em São Paulo reuniu mais de 350 mil pessoas e foi se alastrando por todo o Brasil. Em Sergipe, foram realizadas as “Marchas” na capital e em algumas cidades como Barra dos Coqueiros, Propriá, Itabaiana, entre outras. Instituições no caso, a Igreja que movimenta o povo a participar da marcha para defender todo o país contra o governo da ditadura militar.
Com relação da função das instituições em respeito à cultura temos as instituições que operam como fatores de coordenação e de estabilidade. Aqui pode-se relacionar quando no dia 27 de setembro de 1966, Dom Távora recebeu o título de Cidadão Sergipano e para enganar o episcopado brasileiro e o povo em geral, os militares rasgaram elogios para com ele. Isso foi feito para manter certo controle da situação, tentando disfarçar o que realmente estava acontecendo: as celebrações, reuniões, trabalhos, tudo o que Dom Távora estivesse envolvido passou a ser vigiado, fotografado e gravado; sua homilia passou a ser monitorada; sua casa observada, o que realmente era torturante para Dom Távora passar por tudo isso. Mas tinha que se manter a estabilidade e ao menos demonstrar para a sociedade que as coisas estavam bem entre a Igreja e o regime militar. E também instituições submetem o comportamento do indivíduo a um constante controle social, as vezes para individuar e para sancionar diversamente os comportamentos permitidos e os comportamentos proibidos. Colocando como instituição o regime militar, vemos que eles realmente faziam isso, por exemplo, com Dom Távora, onde que para ele o que lhe era permitido passou a ser proibido: não poder falar nada nem ter acesso à mídia, sem sair de casa, por falar pouco e limitadamente ao telefone (supostamente grampeado). A maioria dos seus amigos disseram que Dom Távora sofreu uma prisão domiciliar de aproximadamente trinta dias, o próprio nunca comentou nada sobre o assunto publicamente, porém era perceptível pelo modo como ele agia.
Falando da função das instituições com relação aos grupos, as instituições podem exaltar o consenso e a coesão. Isso era o que os militares queriam manter com a Igreja, vendo que a maioria dos bispos do país eram contra o comunismo e a favor do poder militar, pois se entendia como uma maneira do comunismo não se alastrar. Com o passar dos anos foi-se percebendo que os abusos políticos, as perseguições e as injustiças para com o povo estava crescendo muito e a Igreja precisou unir forças para defendê-lo. A mudança de posição de alguns bispos foi acontecendo aos poucos com o aparecimento das denúncias. No meio protestante, a cultura anticomunista também era muito forte. Finalmente, as instituições podem ter uma essencial função para canalizar o conflito. Mesmo com toda essa cena acontecendo no País, era dever da Igreja manter a paz e a harmonia na sociedade, esforçando-se ao máximo para ajudá-la. Dom Távora era um exemplo de pessoa que ajudava e se preocupava com o povo:
“A sensibilidade de pastor lhe feria o coração e lhe dava motivos para estar junto ao rebanho perseguido, mesmo sentindo enfraquecer suas próprias forças”; sendo assim chamado de “Bispo dos Operários”.
Pe. Rezende diz que
“Dom Távora foi esse homem que caminhou de fronte erguida como bispo da Igreja, e não como bispo dependendo das forças militares. Por isso, sofreu bastante, devido à saúde estar afetada por causa do diabetes e às contrariedades que teve de enfrentar nos momentos mais difíceis da ditadura”.
Pe. Rezende percebeu que Dom Távora não estava mais aguentando a pressão em seu próprio corpo. Experimentava sua noite escura. Todo dia 31 de março ele era obrigado a celebrar uma missa em Ação de Graças pela “gloriosa revolução”. Era muito triste vê-lo constrangido e doente celebrar deste jeito.
“Era um pastor que se preocupara com o futuro [...], mobilizava os estudiosos, promovia reuniões e fazia a Igreja presente nesse movimento em prol do desenvolvimento em Sergipe”.

“Resistiu até a hora final, a da morte, violentado na sua dignidade, sem forças suficientes e, com o coração dilacerado por tantas dores, não teve mais sossego...”. 

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