Adenilson
Santos Nascimento Júnior*[1]
Uma verdade bem certa é que as disciplinas enquadradas em
campos próximos de investigação tendem a relacionar-se mutuamente. Os conceitos
que definem e caracterizam a Psicanálise como técnica que colabora na descrição
e na explicação dos fenômenos sociais, bem como no comportamento humano, entram
em uníssono com aquilo que é o objeto de estudo da Sociologia, que são
justamente as transformações sociais, a vida em sociedade, o comportamento e
suas consequências na sociedade, analisando as relações ou interações do homem
no grupo onde está inserido e suas implicações em si e neste mesmo meio. Com
tal afirmação, o conceito que define a Sociologia como estudo científico da
sociedade cai por terra, visto que existem outras ciências sociais que estudam
também a sociedade como, por exemplo, um próprio ramo da Psicologia.
Neste caso, seria inadmissível não observar os avanços da
Psicanálise, principalmente com os contributos de Freud, que deu um caráter mais
científico às conclusões psicanalíticas, as quais eram fortemente cobradas
pelos sociólogos. Com ele, a Psicanálise torna-se técnica que de maneira
empírica estuda os modos, os procedimentos, sejam eles uniformes ou não, do
comportamento do homem num grupo social. É como se fosse a grande sacada do
estudo psicossocial notar que as moléstias mentais têm muito a ver com a
organização social e a posição do indivíduo na sociedade, o que contribui para
o desenvolvimento e a mútua colaboração entre estas duas ciências do
comportamento. Isso demonstra que na medida em que o indivíduo passa a ser
investido ou rejeitado, fortes sequelas mentais vão sendo originadas, quer
sejam boas, quer não sejam. Assim, uma depressão ou um distúrbio repentino não
poderiam ser explicados segundo conceitos biológicos ou médicos. Deveriam
entrar aí as interferências sociais, ou seja, as causas no grupo onde ele está
inserido, que contribuíram para o indivíduo haver passado para tal moléstia
mental.
Freud, além disso, refinou o seu arcabouço de métodos de
investigação e de interpretação das moléstias mentais. Para início de conversa,
a primeira característica que deve ser considerada é a multiplicidade de
técnicas de investigação da qual a Psicanálise é revestida, sendo as principais
delas a entrevista e o estudo de caso, porque ajudam mais a conhecer e a
reconstruir o contexto da situação do paciente. Do mesmo modo, a Sociologia não
possui um só método para entender as divergências sociais, mas é dotada de uma
multiplicidade de propostas que a ajudam a analisar de maneira mais precisa os
problemas da sociedade, seja ele mais voltado ao histórico-comparativo, ou a um
campo mais limitado, de acordo com valores quantitativos e qualitativos. Porém,
uma perspectiva que deve ser assinalada é que, para acontecer tal relação, foi
necessário muito avanço e muito esforço. Primeiramente, os sociólogos
teoricamente focados numa explicação conceitual das questões sociais não
estavam interessados em ouvir os conceitos provindos dos resultados obtidos
pelos psicanalíticos através de seus inovadores métodos de investigação. Mas
fica bem claro que só haveria vantagens na cooperação entre as duas
disciplinas: de um lado, a Psicologia cresceria com a propagação de seus
conceitos num outro ramo cognoscitivo; de outro, a Sociologia ganharia com uma
extensão dos limites de explicação sobre as causas sociais. No fim das contas,
as duas saem ganhando.
Ademais, a pedra de toque que justamente relaciona as
ciências sociais é o comportamento humano. De fato, todas elas acabam, de um
modo ou de outro, segundo perspectivas diferentes ou semelhantes, em querer
entender e explicar o comportamento do indivíduo, ou mais ainda as suas causas.
Não obstante as críticas anteriores à Psicanálise que os sociólogos propunham
principalmente pela ausência de suas explicações sobre os fatores das moléstias
sociais, atualmente a situação é de uma afinidade entre essas duas disciplinas,
visto que, em um sentido mais profundo, a Sociologia bebe de muitos teoremas
psicanalíticos que contribuem fortemente para a explicação das coisas e dos
acontecimentos na vida em sociedade. Conquanto se trate de uma teoria que tem
em vista o homem que se relaciona, o assunto tratado é o mesmo nas duas
disciplinas: o comportamento. A personalidade, e suas diferenças, o seu sistema
organizado estrutural e funcionalmente, a libido que colabora na definição da
personalidade e na orientação do comportamento humano, são teorias
psicanalíticas que servem demasiadamente aos conceitos sociológicos.
Entretanto, é bom frisar que em certos casos tais
disciplinas não podem caminhar juntas. O ponto de partida da Sociologia não se
radica na pessoa individual, do mesmo modo que a Psicanálise não se esforça
densamente em estudar as relações entre os indivíduos. Muito embora as duas
ciências trabalhem em cima da temática do comportamento humano, uma se esforça
mais em estudar o homem individualmente, outra em estudá-lo de acordo com suas
relações. A contribuição entre uma e outra disciplina está no fato de que a
Psicologia ajuda a Sociologia enquanto técnica de observar as moléstias sociais
e dar uma comparação com as resultantes do indivíduo no meio social, ao passo
que a Sociologia contribui no estudo psicológico enquanto ciência que estuda as
interações sociais, sendo elas frutos de uma psiquê bem constituída (ou não, se
forem os casos das moléstias).
Para evitar especulações, é bom frisar que a ação, o
comportamento do indivíduo na sociedade é ao mesmo tempo psíquico e social.
Isso porque ele usa de mecanismos que o põem numa realidade total, global, que
compromete a personalidade individual e influi sobre ela. O psicólogo vai
concentrar sua atenção na personalidade global e o meio que influenciará sobre
a estrutura e a dinâmica desta mesma personalidade. O sociólogo, por sua vez,
vai estudar o meio social ou o conjunto global das relações entre pessoas. Em
ambas, serão estudados os comportamentos em suas áreas de campo, cujo
comportamento ganhará caráter objetivo ou subjetivo a depender da situação na
qual o indivíduo se encontra. Assim, o modo pessoal da ação do indivíduo na
sociedade não é autônomo, soberano sobre si mesmo, que se basta a si próprio.
Ele precisa também do modo de atuar em comparação com aquela parte do indivíduo
que permanece fora e se contrapõe. A teoria psicanalítica ganha importância
relevante na medida em que pode cooperar na explicação dos fenômenos sociais e
das consequências do comportamento humano no meio social onde ele está
inserido.
Aliás, o comportamento não é algo composto de várias ramificações
que podem ser separadas e estudadas uma por uma em cada uma das disciplinas
sociais. Seria um conceito muito pobre. Na realidade, as teorias sobre o
comportamento humano ganham mais relevância quando são carregadas de vários
conceitos da mesma temática, sobre o mesmo assunto visto de vários pontos de
vista, como seria o caso da ciência psicanalítica e da sociológica ao
discutirem sobre o mesmo tema. Outra consideração que deve ser frisada é que
uma ciência não é mais científica por possuir um conceito mais teórico, ou mais
empírico que a outra. Como já foi dito, tratam-se de duas ciências que possuem
seus campos próprios de pesquisa e de investigação, que podem muito bem
relacionarem-se mutuamente, trocando conceitos, ideias e conclusões favoráveis
às duas disciplinas. Não se trata de disputa entre matérias do comportamento
para saber qual delas é a melhor ou mais convincente. São, na verdade, duas
matérias que querem crescer cada vez mais, e que, se for preciso entrar em
sintonia, elas conseguem tal objetivo hoje em dia de maneira facilitada.
Enfim, são grandes os avanços obtidos por essas duas
disciplinas das ciências sociais que tendem a crescer muito mais ao passo que
conseguem cada vez mais relacionarem-se. No entanto, a associação dessas duas
disciplinas não é a solução para as indagações de suas investigações. A
Psicanálise e a Sociologia ainda têm muito que trabalhar nas suas próprias
áreas sobre temas que são especificamente seus. Essa associação traz, sem
dúvidas, uma diminuição nas pesquisas e uma maior quantidade de respostas às
perguntas concernentes às duas ciências. Mas, em síntese, não trazem todas as
respostas para todos os problemas das questões sociais e psicológicas. Em
outras palavras, haverá questões que somente a Sociologia poderá explicar,
mesmo que precise recorrer a um ou outro conceito psicanalítico, e vice-versa.
Isso não faz de modo algum empobrecer as teorias de uma ou de outra disciplina.
Pelo contrário, só fortalece e enriquece mais as suas teses e conceitos. A
interdisciplinaridade dessas duas ciências cai muito bem no que se refere a
ideias de interesse mútuo, onde as duas podem muito bem esforçarem-se para
alcançar respostas que sejam úteis tanto às questões psicológicas como às
questões sociais. O que não se pode afirmar é que cada matéria se basta em si
mesma. Na verdade, se bem pensado, cada ciência é útil às outras ciências. O
que basta é esta consciência de colaboração mútua, tão necessária às ciências se
a meta for o seu progresso.
[1] Todos os nomes, seguidos de (*), são os de alunos, da
disciplina de Introdução à Sociologia,
do curso de graduação em filosofia, de 2016, do Seminário Maior Nossa Senhora
da Conceição, de Aracaju/SE.
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