domenica 23 aprile 2017

Relação entre a tortura de escravos e heresias na Casa da Torre e a sociedade de Comte


José Valdo Barbosa Júnior*

O escritor Luiz Mott nos relatar em sua obra, Bahia: inquisição & sociedade, no quarto capítulo a crueldade realizada pelo o Mestre de Campo Garcia d’Ávila Pereira de Aragão com os seus escravos. E só tivermos conhecimento deste fato graças aos documentos da inquisição de Lisboa, onde uma testemunha corajosa teve a ousadia de denuncia um dos homens mais ricos do Brasil da segunda metade do século XVIII. Sendo assim o autor tentar por meio deste artigo divulgar essa realidade até então confidencial.
Garcia d´Ávila Pereira de Aragão nasceu em 4 de outubro de 1735, na fazenda de seu avó, casou-se duas vezes, sem deixar descendentes, residiu na Casa da Torre, Casa esta que era como se fosse um castelo sediando um “império” rural, já que os d’Ávila eram donos de quase todo o nordeste, como afirma Borges de Barros, foi a sede do maior latifúndio do mundo. Seu biógrafo Pedro Calmon define o Mestre de Campo assim: “sem nenhuma dúvida, foi o mais rico dos filhos do Brasil, inteligente e arrebatado: o último varão da estirpe dos Garcia d’Ávila”.
Como já foi citado acima o Mestre de Campo, ilustre fazendeiro baiano, homem de vários títulos, maior escravocrata da Bahia durante meados do século XVII, Mas seu culminante defeito estava em ser também o maior carrasco da história do Brasil.
Diante de tais afirmações sobre a crueldade do Mestre de Campo, José Ferreira Vivas, um personagem desconhecido, e possivelmente estava presente quando as heresias e as torturas foram cometidas na Casa da Torre. Denunciar toda essa situação ao tribunal da inquisição de Lisboa, que ficaram registradas 12 folhas manuscritas pelo mesmo. Nesses escritos são tratados as heresias cometidas por Garcia d’Ávila Pereira de Aragão, grande parte delas é em relação as barbaridades por ele feitas com os escravos e as outras são as blasfêmias, sacrilégios e impertinência contra a religião católica realizadas na Casa da Torre.
Algo que devemos observar, que nessa época a Igreja Católica era conivente com a escravidão, mas José Ferreira Vivas denúncia a inquisição que é da Igreja, porque alguns membros e instituições religiosas chamavam à atenção dos senhores para não ter exageros nos castigos, todavia devia aplicar correções aos merecedores da mesma.
Infelizmente essas denúncias foram arquivadas pelo Tribunal do Santo Ofício, por estarem preocupados em resolver outras situações de caráter mais religioso, como perseguir os hereges, os protestantes, os feiticeiros, os sodomitas, os bígamos entre outros. E também o Mestre de campo não seria julgado tão facilmente por possui grande influência sobre política baiana, já ele sendo o homem mais rico de toda América portuguesa, e religioso porque ele tinha o hábito da Ordem de Cristo.
É válido lembrar que a corte de Portugal já tinha dado a possibilidade de haver denúncias de maus-tratos contra os escravos, onde até mesmo os escravos deveriam fazer as acusações. Porém, logo após um curto período, o rei de Portugal voltou atrás de sua ordem, alegando evitar perturbações entre os escravos e seus soberanos. De tal modo a tirania continuava impune.
Luiz Mott afirma que os motivos que o levou a trazer o caso do Mestre de Campo. Foi o desejo de fazer justiça, mesmo tardia, à família dos Garcia d’Ávila, pioneiros na colonização do Brasil, mas também os principais responsáveis pela violência contra escravos e indígenas, numa época em que violência não era atributo dos poderosos, onde a Igreja Católica, os inquisidores ou os ponta-de-lança regionais justificavam e coordenavam as crueldades com a finalidade de manterem-se no poder.
Outro motivo que Mott elenca é o de leva o leitor, a partir dos registro lidos, tirar conclusões próprias sobre os relatos, e notar que trata realmente de um manual de tortura até então arquivado, sugerindo ao leitor fazer uma ligação de como os negros contemporâneos que vivem fatos de descriminação e violência por parte da segurança pública na atualidade, mesmo depois de tanto tempo do fim da escravatura e da declaração dos Direitos Humanos. Ele vai ao encontro do que Auguste Comte afirma, quando ele relaciona o homem antigo torturador da Bahia, com os policiais de agora. Entendemos ai que o homem é idêntico em todas as partes em todos os tempos.
O motivo para Luiz Mott de feito o trabalho foi o de divulgar os documentos que falam da Casa Torre, tendo como objetivo retratar o sentido material da casa, sua forma, utensílios usados, instalações, as personalidades que se a conchegavam dia a dia a esse castelo português na América; revelar as torturas e sacrilégios ocorridos neste local, porque apesar do Tribunal do Santo Ofício poder confiscar bens, leva pessoas para fogueira, açoitar entre outras coisas, as blasfêmias e sacrilégios cometidos na Casa da Torre e por uma boa parte da elite colonial que se dizia cristã, contudo faziam essas ações heréticas.
Diante de tudo colocado por Mott, observamos que ele fala de uma sociedade colonial e suas relações de poder exercidas pelas classes componentes. Assim o autor tenta abranger as torturas e os sacrilégios ocorridos na Bahia, durante o século XVIII, para explicar um período e a história de uma família colonial. Nesta questão, ele utiliza um princípio do todo pelas partes de Auguste Comte, onde fazendo observações do modo de agir de um determinado grupo social, é capaz de fazer afirmações de como são as organizações sociais da época, por meio do método indutivo.
Contudo, compreendemos que é uma sociedade, onde em sua estrutura está presente as desigualdades, o poder religioso está condensado nas riquezas, as famílias poderosas das colônias são responsáveis por toda organização social, os escravos são torturados e castigados sem piedade, e os governo português é convivente com a circunstância. Estas informações gerais é que Luiz Mott que nos transmitir neste texto.
Referência

Mott, Luiz. Bahia: Inquisição e sociedade. Salvador: EDUFBA, 2010. Pág. 65-97. 

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